quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Refém do meu cuspe

Escrevo em busca do meu sono, que não chega, porque estou presa, amarrada.
Escrevo para encontrar lucidez em alguma palavra.
Escrevo para me confortar, me desiludir, aceitar.
Ele já não me ama mais, ao perceber isso, eu vejo o quanto o amo.
Sou escrava das minhas próprias utopias e crenças.
Cuspes caindo diretamente na testa, aqueles que lancei com tanto orgulho.
Agora minhas crenças me machucam, meus conhecimentos me destroem.
Ele já não me ama mais. Eu, que não acredito no amor eterno, na monogamia, desejo seu amor pra sempre.
Eu, feminista, engulo agora o meu orgulho e desejo ter sido a Amélia, aquela de verdade.
Dói o amor que não vou mais viver. Doi em mim, naquela que acredita no poder do agora e na força do pensamento positivo. Onde estão vocês anjos para quem tanto rezo?
Dói, em mim, que acredito que é ato de amor deixar o grande amor ir quando ele deseja. Dói, que desejo ser egoísta e jogar ao vento as teorias que acredito.
Teorias, eram lindas nos livros, textos, na minha mente. Eram perfeitas, agora são correntes que aprisionam o amor que há em mim, amor que não vou mais viver, que não cultivei.
E se eu não tivesse mudado tanto? Você ainda me amaria?
E se eu tivesse optado pela vida de sempre, trabalhar, filho na creche desde 4 meses, vendo-o umas 2 ou 3 horas por dia? Você me amaria?
E se meu corpo não fosse flácido, meus cabelos sedosos e minha boca vermelha, você me amaria?
Ah, o "e se", como me faz sofrer.
A liberdade tão sonhada agora é minha cela, minha solitária.
Não sou nada daquilo que prego, não honro minhas palavras, elas são apenas cuspe.
Me afogo no meu próprio cuspe.

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