terça-feira, 19 de setembro de 2017

Não Monogamia - Nem tudo são flores

Não Monogamia - Nem tudo são flores

Você tem aquele casal de amigos que acha super descolado porque são Não Monogâmicos, tem aquela amiga super espírito livre que é poliamorista e semana passada descubriu que aquela atriz super famosa tem relacionamento aberto com o namorado dela. WOW, que legal esse povo super pra frente, deve ser tão bom isso, eu queria ser assim, ei amor, vamos tentar?

Calma, nem tudo são flores, nem amores, tem espinhos e dores.



Vou usar o termo NM (Não monogâmico) durante o texto, pois se vocês pesquisarem, poliamor é diferente de relacionamento aberto, que é diferente de realcionamento livre, que é diferente, etc, etc, etc... rótulos, rótulos e rótulos.

A NM é mais antiga do que imaginamos, mais antiga do que o casamento, mais antiga de quem nasceu há dez mil anos, portanto, era comum, mas hoje em dia o comum tem que ser provado que é comum e o duvidoso não precisa provar nada. Como algo comum e antigo, a NM deveria então ser fácil e aceita.
Atualmente, resgatar comportamentos, costumes, etc, que eram "normais"dão mais trabalho do que ficar na inércia daquilo que não é natural, pois o não natural anda sendo bem mais aceito pela sociedade.

Como todos os processos de resgate, adentrar em um relacionamento NM quando você cresceu acreditando em "até que a morte os separe" pode ser muito penoso e requer talvez um processo terapêutico, pois ele está atrelado à quebra de paradigmas, tabus, preconceitos e crenças limitantes que estão encouraçadas na nossa alma e remover estas couraças é um processo delicado e que implica um olhar muito acolhedor dessa pessoa que está contraída de baixo das cascas.

Se tornar NM é se descobrir como um casal, é se reconhecer e se perceber novamente. É talvez experimentar o ciúmes de verdade. É se abrir para a paixão e com ela, as decepções. Ser NM é enfrentar novamente a rejeição, levar um fora, ficar na ansiedade se ela vai responder a mensagem, se ele vai ligar.

Se for casado e tiver filhos, complicou mais ainda, pois agora tem toda a questão de lidar com a divisão do tempo e se atentar para não se perder em uma nova relação.

Se tornar NM é enfrentar preconceito, chacota e difamação.

Se tornar NM sem uma rede de contatos, pode ser mais difícil ainda, pois ninguém irá te compreender, mas caso compreenda, não terá base para dar bons conselhos ou auxiliar com alguma experiência.

Mas... Mas, claro que tem o mas. Tem flores sim!

Será a oportunidade de conhecer o seu parceiro ou parceira de uma outra forma. De se apaixonar novamente, experimentar novas pessoas, novos olhares, novas formas de se relacionar. Poderá despertar entre o casal algo adormecido, até mesmo apaixonar-se novamente pela mesma pessoa.

Se tornar NM é um caminho lindo para a liberdade, cumplicidade, parceria, confiança, autonomia e plenitude.

Temos visto muitos textos condenando a não monogamia, mas é importante enfatizar que ela nada tem a ver com poligamia ou traição, pois a não monogamia é consentida por todas as partes envolvidas e costuma ter muito diálogo e esclarecimentos. Existe uma grande preocupação com a responsabilidade afetiva para com todas as partes envolvidas, vocês já haviam ouvido esse termo? Pois bem, existe clareza, verdade e objetividade, que andam tão em falta nos relacionamentos monogâmicos.

Então, se está pensando em embarcar nessa, encontre algum grupo que possa conversar, uma amiga, amigo, converse muito com seu parceiro (a).

Tem muita gente boa NM, tem muita família linda NM, mas por conta da sociedade opressora, ainda não expõem a real situação, pois os juízes estão de plantão 24 horas.

Se você escolheu (ou acredita que escolheu) a monogamia, ótimo, seja fiel a sua escolha e à pessoa que escolheu para viver para sempre, em todos os sentidos! Meu objetivo não é "converter" ninguém, mas sim apenas ganhar visibilidade e poder andar por aí de mão dada com tantas pessoas eu quiser, sem julgamentos, nem pelas pessoas e nem por religiões.

Por Egle Prema Shunyatta
Terapeuta Corporal e Doula